sexta-feira, 11 de maio de 2012

A Geração Petroleo II


Flávia Amaral 24 anos - A engenheira passa metade do mês embarcada nas plataformas marítimas. Nos outros dias, administra sua escola de dança de salão, no Catete

O regime diferenciado de trabalho nas plataformas, marcado por temporadas de catorze dias no mar alternados com catorze dias de folga, é duríssimo, mas permite aos jovens se lançar a voos pouco comuns a quem trabalha dez horas diárias em um escritório. A engenheira Flávia, citada no início da reportagem, por exemplo, possui uma escola de dança no bairro do Catete. Quando está embarcada, o negócio é tocado por seu marido, Jimmy de Oliveira, de 37 anos. No total, 200 alunos frequentam as amplas instalações do estabelecimento. Com dinheiro no bolso, os garotos conseguem antecipar sonhos que provavelmente levariam mais tempo para realizar — e curtem sua independência financeira fazendo o que gostam. É o caso de João Magalhães, 24 anos, que se formou há apenas sete meses. Funcionário da americana Baker Hughes, uma das maiores prestadoras de serviços do setor, ele acaba de comprar seu primeiro carro, um Volkswagen Bora, no valor de 35 000 reais. Criado no Cosme Velho, o rapaz chega a ganhar, nos meses em que embarca, 6 000 reais, cerca de 40% a mais que seus colegas de outros ramos da engenharia. O processo de seleção na empresa foi rigoroso. Para conseguir uma das sete vagas disponíveis, ele foi escolhido entre 5 000 postulantes. Atualmente, mora em Macaé e vem ao Rio passar os fins de semana na casa dos pais. Nessas ocasiões, pratica surfe e futevôlei, esportes pelos quais é apaixonado. “Viver longe daqui é um sacrifício, mas vale a pena. As empresas têm apostado muito em nós”, afirma ele.
Eduardo Antonello 35 anos - Em menos de dez anos, tornou-se presidente para a América Latina de um gigante norueguês do petróleo. Nas folgas, veleja e passeia com sua moto BMW

Ao iniciar a carreira em um patamar tão alto, a geração petróleo tem grandes chances de chegar ao topo mais rápido. Não são pequenas as possibilidades de, em dez anos, rapazes e moças como Flávia, João, Marina e Bernardo ocuparem posições no primeiro escalão nas companhias em que trabalham. Foi exatamente esse o caminho percorrido por Eduardo Antonello, 35 anos, atual presidente para a América Latina da norueguesa Seadrill, uma das maiores empresas do ramo de perfuração. No fim dos anos 90, quando os cursos atuais ainda não existiam, ele se matriculou em engenharia mecânica no Mackenzie, em São Paulo. Entusiasmado com a expansão do setor, ingressou na francesa Schlumberger. Sem uma formação acadêmica específica, Antonello construiu sua trajetória no exterior, vivendo em seis países ao longo de oito anos. Aos 24, por exemplo, morava no Catar. Aos 30, tornou-se chefe de perfuração no Brasil. Dois anos depois, foi contratado para o cargo atual. Morador do Leblon, casado com uma colega de profissão egípcia e pai de Ísis, ele é o decano dessa turma. Nos momentos de folga, gosta de velejar. Quando o tempo é maior, pega sua moto de trilha, uma BMW Adventure de 1 200 cilindradas, e troca o mar pelas estradas de terra. “É uma profissão complexa, que exige muito do profissional, mas compensa”, conta. “Especialmente para quem está disposto a entender todo o processo, do poço ao posto de gasolina.”
Bernardo Pestana 25 anos - Membro da primeira turma da UFRJ e contratado da OGX, sonha em ter um haras. Os primeiros cavalos serão comprados em reve por 20 000 reais cada um
Embora a indústria do petróleo tenha mais de quarenta anos, pode-se dizer que ela nunca esteve em melhor forma, tão rejuvenescida. Embaladas pelo pré-sal, as universidades públicas e privadas mudaram seus conceitos, apostando na formação de mão de obra específica e aumentando o volume de pesquisas na área. Os estudos sobre o tema são, inclusive, responsáveis por um substancial crescimento da produção acadêmica nacional.

Recentemente, o país subiu da 19ª para a 13ª posição na publicação de trabalhos científicos — à frente de Holanda, Suíça e Israel. Em paralelo, o parque tecnológico da Ilha do Fundão, que fica próximo da Coppe e também do Cenpes, o Centro de Pesquisas da Petrobras, está recebendo uma enxurrada de investimentos. Entre as empresas que já anunciaram a instalação de polos por lá estão a americana General Electric e a francesa Schlumberger. Todo esse movimento deve trazer cerca de 3 bilhões de reais em investimentos e mais 4 500 empregos de altíssimo nível nos próximos dois anos. Resume o secretário municipal de Desenvolvimento, Felipe Goes: “Se minha filha estivesse prestando vestibular, não hesitaria em aconselhá-la a seguir essa carreira”. Para quem está disposto a sujar as mãos e trabalhar duro, é sem dúvida um excelente caminho.

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