segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Sociólogo analisa embates entre países e empresas por energia

Uma estatal chinesa (Cnooc) quis comprar uma petroleira californiana (Unocal), que possuía reservas no Sudeste Asiático, no golfo do México e no mar Cáspio. O negócio, de US$ 18,5 bilhões, era objetivo também da norte-americana Chevron, que buscava compensar a exaustão gradativa de suas reservas.

A disputa foi parar no Congresso norte-americano. Parlamentares afirmaram que o controle da China sobre uma parcela (relativamente pequena) dos suprimentos norte-americanos ameaçava a segurança nacional dos EUA.

Embargos articulados pela Chevron foram providenciados no Congresso, e a pressão política surtiu efeito. A China (com a melhor oferta) saiu da disputa. A Chevron ficou com a Unocal em 2005.

O episódio, que mostra a realidade do chamado "livre mercado", é lembrado por Igor Fuser em "Energia e Relações Internacionais".

Doutor pela USP, sociólogo e jornalista, o autor é professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC. Didático, seu livro percorre as disputas geopolíticas e econômicas em torno de fontes de energia a partir do final do século 19.

Seu estudo passa por guerras, choques de preço e de produção de petróleo e investimentos em alternativas. Fuser foca a política e descreve os embates entre países produtores e consumidores e empresas transnacionais.

Ele afirma que o petróleo e o gás natural são recursos estratégicos que "não podem ser encarados como simples mercadorias, regidas apenas pelas forças de mercado". Relata a ascensão de John Rockefeller, a hegemonia das "sete irmãs" petroleiras e o papel vital do petróleo a partir da Primeira Guerra Mundial.

NACIONALISMOS

Essencial na reconstrução europeia após a Segunda Guerra Mundial, o petróleo tinha um custo de produção de US$ 0,10 na Arábia Saudita em 1945. A Casa Real recebia de royalties US$ 0,16. E o preço de venda oscilava entre US$ 1,05 e US$ 1,13.

Os estratosféricos ganhos das petroleiras foram abalados pela primeira vez em 1948, quando a Venezuela adotou uma regra que dividia os lucros igualmente entre empresas e Estados.

No Irã, a estatal britânica se recusou a compartilhar os ganhos em 50%, e, em 1951, o primeiro-ministro Mohammed Mossadegh nacionalizou o petróleo.

A seguir, foi derrubado por um golpe promovido pela CIA e pelo Reino Unido. Mas a onda nacionalista continuou. A Opep foi criada em 1960 e mudou a correlação de forças. Em 1973, ocorreu a guerra entre Israel e países árabes. Houve embargo de fornecimento aos EUA e o primeiro choque do petróleo --800% de aumento de preço do combustível.

Hoje, 77% das reservas mundiais de petróleo se encontram sob o controle de estatais ou semiestatais.

CONFLITOS

Os EUA, com apenas 5% da população mundial, consomem 21% de todo o petróleo produzido no mundo. Importando praticamente a metade do que usa, o país adotou a "estratégia da máxima extração", com foco no golfo Pérsico e no norte da África.

Assim, enquadra-se a guerra que derrubou Saddam Hussein, um inimigo dos EUA no Iraque, que detém a quarta maior reserva do planeta (atrás da Arábia Saudita, da Venezuela e do Irã).

Após a invasão norte-americana, ExxonMobil, Shell e BP voltaram ao país --de onde estavam afastadas desde 1973-- e levaram os mais vantajosos contratos, conta Fuser. A mesma lógica explica o apoio aos sauditas e a constante pressão sobre o Irã.

Fuser lembra o caso do golpe contra Hugo Chávez e a "guerra do gás" que marcou a ascensão de Evo Morales na Bolívia. Para ele, "a mudança do modelo neoliberal dos hidrocarbonetos do país por uma política de soberania energética trouxe benefícios": a renda do setor passou de 5,5% do PIB, em 2004, para 21,9%, em 2009.

Preocupado em expressar diferentes lados do problema energético, Fuser tenta resumir para leigos um tema complexo. Seria necessário mais espaço para aprofundar alguns pontos. Mas a leitura é útil para quem quer entender a história e a política por trás de eventos cruciais de hoje. Olhando bem, petróleo e energia vão aparecer.

ENERGIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
AUTOR Igor Fuser
EDITORA Saraiva
QUANTO R$ 54 (224 págs.)
AVALIAÇÃO Bom

Texto extraído de ;

sábado, 2 de novembro de 2013

Pré-sal, o maior desafio do Brasil

O petróleo do pré-sal guarda uma oportunidade de ouro para o avanço da economia brasileira — desde que o país não se perca em meio à sua grandeza

Rio de Janeiro - Todos os dias, mais de 180 000 barris de petróleo são extraídos de poços do pré-sal. O combustível produzido na nova fronteira, descoberta em 2007, já abastece veículos no Brasil e no exterior — a primeira carga exportada foi para o Chile em maio do ano passado.
Aos poucos, o pré-sal vai deixando de ser um projeto distante, localizado em algum lugar do futuro no imaginário dos brasileiros. Também vão se afastando as dúvidas sobre a viabilidade tecnológica e econômica de tirar petróleo debaixo de 3 000 metros de água e 4 000 metros de rochas.
O melhor, no entanto, é saber que a produção atual do pré-sal ainda é uma gota diante do potencial brasileiro. Os campos gigantes que se espalham do litoral do Espírito Santo ao de Santa Catarina são a principal novidade do setor em décadas. Um de cada três barris de petróleo descobertos no mundo nos últimos cinco anos está no Brasil.
Partindo de estimativas conservadoras, o pré-sal deve dobrar as reservas de petróleo do país para 31 bilhões de barris — o número só considera a parte já descoberta. Acredita-se que haja outros 87 bilhões de barris não descobertos.
A descoberta do pré-sal abre um novo horizonte para o Brasil. Leva o país mais perto do primeiro time como potência energética”, diz Daniel Yergin, economista americano considerado uma das maiores autoridades mundiais em energia. Por tudo isso, o Brasil encontra-se diante de uma oportunidade rara. A saga em torno do pré-sal é, hoje, um dos mais impressionantes empreendimentos em curso no mundo. No ranking dos maiores projetos em operação, só a construção de uma rede de 25 000 quilômetros de trem-bala na China rivaliza com o pré-sal.

No caso chinês, os 300 bilhões de dólares previstos em investimentos nas ferrovias até 2020 são a maior aposta do governo de Pequim para manter a economia aquecida ao longo da década. Já no Brasil, o petróleo pode ser o passaporte para o Primeiro Mundo — se soubermos lidar com sua grandeza.


Fonte: http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1019/noticias/pre-sal-o-maior-desafio-do-brasil









Huet, CBSP e a “falta” de mão-de-obra no mar

O discurso da mídia a respeito das profissões marítimas relacionadas diretamente com o petróleo é o mais animador possível. Imagens e mais imagens tentando nos convencer de que estão chovendo empregos no offshore. Podando este discurso dos eufemismos, realmente não é difícil acreditar que o setor carece de mão-de-obra qualificada. No entanto, não acredito que esta necessidade tenha simplesmente surgido diante de nós, já adulta e cheia de vontades. Para tudo, existe um motivo.

O ensino técnico existe no Brasil antes mesmo do petróleo ser descoberto. Não houve, ao longo da história, incentivos palpáveis no tocante à inserção de técnicos no mercado petrolífero e/ou posteriormente, no mercado petrolífero offshore

.Todos os dias, recebo e-mails de profissionais qualificados, poliglotas, bacharéis, e tudo o mais, desesperados porque deram seus currículos até para o Papa e nada conseguiram.

- Que p#@* de falta de mão-de-obra é essa??!!

Aí, partimos para o campo, procurando empregos e encontramos dificuldades, mas não as habituais quando se luta por um lugar ao Sol, mas dificuldades que vão, digamos, sobre as cabeças dos desempregados.

O que se diz por aí é que, sem os cursos Huet (escape de aeronaves submersas) e Salvatagem (CBSP) , você nem toma café na copa do mercado offshore. Os dois juntos têm um prazo de validade de dois a cinco anos, dependendo da empresa e do curso, e custam uma média de R$ 3 mil. Como, meu Deus, um sujeito desempregado, que almeja ser plataformista ou homem de área, emprego que paga um salário médio de R$ 2.500, conseguirá fazer um curso que custa R$ 500 reais a mais do que o salário que ele pretende ganhar?

Eu deposito todas as minhas fichas neste mercado, exatamente porque quero muito também entrar nele. Sou bacharel, falo inglês melhor do que muito oficial, pós-graduando em QSMS e estou pleiteando um emprego como técnico de segurança offshore. E estou com bastante medo deste mercado que, ao que está me parecendo, te chama, te seduz, mas bate a porta na sua cara.

O conselho que posso dar é: qualifique-se cada vez mais. Nunca pare de estudar, fazer cursos, aprender línguas que tenham a ver com o ambiente offshore (está cheio de noruegueses, holandeses…só escolher). No ruim de tudo, os mais fortes sobrevivem, como sempre foi, independente de qualquer boom, ou falso boom de empregos. 

Por Marcus Lotfi


O Pré-sal deve dobrar as reservas de petróleo do país para 31 bilhões de barris, acredita-se que haja outros 87 bilhões de barris não descobertos.

Aos poucos, o pré-sal vai deixando de ser um projeto distante, localizado em algum lugar do futuro no imaginário dos brasileiros. Também vão se afastando as dúvidas sobre a viabilidade tecnológica e econômica de tirar petróleo debaixo de 3 000 metros de água e 4 000 metros de rochas.

Partindo de estimativas conservadoras, o pré-sal deve dobrar as reservas de petróleo do país para 31 bilhões de barris — o número só considera a parte já descoberta. Acredita-se que haja outros 87 bilhões de barris não descobertos.

O petróleo do pré-sal guarda uma oportunidade de ouro para o avanço da economia brasileira. Veja mais na reportagem de Roberta Paduan na Exame: http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1019/noticias/pre-sal-o-maior-desafio-do-brasil .


sábado, 26 de outubro de 2013

Salário para profissionais do pré-sal pode chegar a R$ 50 mil

Após o leilão do bloco de Libra, do pré-sal, a corrida agora é em busca de profissionais especializados no setor de óleo e gás. Segundo levantamento divulgado pela empresa de recrutamento Michael Page, os salários dos dez principais cargos na exploração do pré-sal, requisitados pelo setor nas três fases da cadeia – exploração, perfuração e produção – vão de R$ 8 mil a R$ 50 mil.

De acordo com Bruno Stefani, gerente da divisão de óleo e gás da Michael Page, o momento trará oportunidades para os mais jovens e os mais experientes, em todas as fases da cadeia, passando pelas geociências, exploração, desenvolvimento e projetos, até chegar à produção. “Será importante uma sincronia fina entre esfera pública e privada para aproveitar o que há de melhor e não deixar escapar essa oportunidade que não só transformará o setor e sua cadeia correlacionada, mas como a economia do País”, diz.

“Estimo o potencial para 20 anos consecutivos de investimento em tecnologia, infraestrutura, serviços e em mão de obra”, afirma Stefani. 

Fase inicial 

Durante a fase inicial de investigação para exploração, em que se estuda o potencial de exploração do campo, os profissionais ligados à geologia têm grande importância. Confira abaixo as profissões descatacas neste período.

– Geólogos

Com formação em geologia, o trabalhador vai estudar as características da área potencialmente explorável. Em início de carreira, geólogos têm remunerações entre R$ 6 mil e R$ 8 mil.

– Geofísicos 

Profissionais de formação em geologia e com especialização em geofísica. De acordo com o gerente da Michael Page, “se são empresas em operação inicial no Brasil, geralmente vão buscar profissionais com mais experiência, que conheçam a geologia das áreas”. Para quem tem menos experiência, o salário varia de 8 mil a 12 mil; já os com mais experiência podem ter salários acima de R$ 30 mil.

– Petrofísicos

 Geólogos especializados em petrofísica também são bastante demandandos nesta fase de investigação. Novamente, explica Stefani, dependendo da empresa, a busca pode ser por profissionais mais ou menos experientes e isso vai influir diretamente na remuneração.

No nível júnior, os salários variam de R$ 8 mil a R$ 12 mil; com certo tempo de experiência na função, a remuneração pode variar entre R$ 12 mil e R$15 mil. Já profissionais de alto nível de senioridade chegam a ganhar entre R$ 35 mil e R$ 45 mil.

Fase de apuração 

Após o trabalho dos geólogos, é a vez de quem vai realizar testes para confirmar a viabilidade da exploração apontada na primeira fase. Confira abaixo as profissões em destaque.

– Engenheiro de perfuração

A formação em engenharia é obrigatória, mas a habilitação pode variar bastante entre os profissionais desse ramo. De acordo com Bruno Stefani, pode ser um engenheiro mecânico, civil, eletricista, entre outras habilitações. Já que não existe pós-graduação em engenharia de perfuração, a especialização nesse ramo de dá com treinamento prático, ou seja, com experiência na indústria de óleo e gás.

No nível júnior, com experiência de até cinco anos, os salários variam entre R$ 8 mil e R$ 12 mil. Profissionais experientes chegam a ganhar mais de R$ 30 mil

– Gerentes de perfuração

A formação técnica deste profissional é a mesma do engenheiro de perfuração, o que diferencia é a função de gestão. O cargo, destinado a profissionais com mais de 45 anos, tem salários que podem ultrapassar R$ 30 mil.

– Gerente de contratos

Com formação em engenharia, o cargo pede experiência técnica. “Ele é o dono de toda a embarcação, responsável por um contrato de R$ 1 bilhão, por exemplo, e deve conhecer bem todas as fases do projeto”, explica Stefani. O salário desse profissional pode variar em R$ 15 mil e R$ 40 mil, dependendo do porte da empresa e do nível de senioridade.

– Gerente de engenharia

É quem vai comandar a equipe de engenheiros nos projetos que podem abarcar desde a tubulação da embarcação como também a parte mecânica, elétrica, por exemplo. Como ocorre com os outros cargos de gestão em óleo e gás já citados, ter experiência na área vai fazer toda a diferença para garantir uma oportunidade nesta posição. Nesse cargo, a remuneração fica entre R$ 15 mil e R$ 40 mil.

Produção 

Divulgação/Petrobras 5.05.2006
Navio plataforma FPSO, da Petrobras, o primeiro a produzir óleo do pré-sal, no campo de Baleia Franca (litoral do Espírito Santo)

O período de produção é a etapa final da cadeia de óleo e gás, a fase de começar a extrair e produzir. Neste momento são contratadas prestadoras de diversos serviços de apoio à produção e manutenção. Confira os cargos mais procurados nesta fase.

– Gerente de operação

Com formação em engenharia, diversas habilitações profissionais se encaixam no perfil do gestor de operações. De acordo com o especialista da Michael Page, é um cargo com alto grau de responsabilidade, já que o funcionário é responsável por gerenciar toda a planta química off-shore. Assim, a experiência é o diferencial para garantir a vaga.

Profissionais com dez anos de experiência recebem, em média, R$ 35 mil. Quanto maior o tempo de experiência, maior o salário, que pode chegar a R$ 50 mil.

– Oficiais de náutica

De acordo com Stefani, este é um gargalo de formação no Brasil. “Os oficiais de náutica são formados pela Marinha e é uma área que não desperta muita atenção dos jovens na época de faculdade”, diz. Cada uma das embarcações que fazem o apoio da produção precisa ter oficiais de náutica.

O salário de um comandante pode passar de R$ 30 mil.

– Gerente de plataforma

Com formaçãoe em engenharia e experiência prévia, é importante que o funcionário tenha habilidades de gestão e comprometimento com o projeto, assim como a preocupação com questões de segurança do trabalho, destaca o gerente da Michael Page. Os salários desses profissionais variam de R$ 25 mil a R$ 35 mil. 

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

O Ingresso de Engenheiros Recém-formados no Mercado de Trabalho Brasileiro

Esta pesquisa foi realizada no LinkedIn em Junho/Julho de 2013 com o objetivo de analisar o mercado de trabalho e o perfil de engenheiros recém-formados de todo Brasil em sua busca pelo primeiro emprego.

A pesquisa on-line obteve 500 respostas entre engenheiros e estudantes de engenharia, sendo 209 engenheiros com ao menos uma experiência de trabalho após formado.

Os tópicos a seguir sintetizam os resultados analisados em toda a pesquisa. Para visualizar a análises gráfica de todas as respostas acesse a aba Estatísticas. Outras análises por perfil serão divulgadas nos próximos dias.

VISÃO GERAL

Falta de engenheiros faz com que profissão esteja em alta no Brasil: Um engenheiro recém-formado pode ganhar até R$ 5 mil mais benefícios.” foi notícia de Março de 2013 no Jornal Hoje da Globo.

Brasil tem déficit de 40 mil engenheiros: A escassez de profissionais para trabalhar em campo com infraestrutura melhora propostas salariais, mas prejudica a produção tecnológica do país e reduz a quantidade de mestres e doutores” (Março de 2012). “Crescimento do país força demanda por engenheiros: Previsão de aquecimento econômico esbarra em gargalos na formação de novos profissionais” (Março de 2011). Essas foram notícias na Gazeta do Povo nos últimos anos.

Já é fato que essas matérias não condizem com a realidade de muitos engenheiros recém-formados. Ao mesmo tempo em que surgem essas notícias, tem sido observado muitos engenheiros alertando da dificuldade de se conseguir o primeiro emprego, em especial devido à falta de experiência e exigências do mercado. Além disso, poucas são as vagas que oferecem uma oportunidade para o recém-formado iniciar sua carreira oferecendo ao mínimo o salário piso do Engenheiro.

De acordo com o CREA, o piso salarial para o profissional de Engenharia é de 8,5 salários mínimos com atuação de 8 horas diárias. Isso hoje representa, de acordo com o salário mínimo nacional de R$ 678,00, mais de 5,7 mil reais. Entretanto, essa pesquisa realizada no LinkedIn revelou que apenas 31,3% dos Engenheiros recém-formados desde 2009 tiveram salários de 4 mil reais ou mais em seu primeiro emprego (considerando a variação do salário mínimo desde 2009). Apenas 31% atuam como Engenheiro Júnior em seu primeiro emprego, os demais atuam como analistas, técnicos, auxiliares ou outros cargos em que não é necessário o pagamento do piso de Engenheiro. Então onde está a valorização citada pela mídia?

A pesquisa também apresenta que apenas 13,6% dos engenheiros conseguiram emprego antes mesmo de se formar, enquanto isso 35,6% levou mais de seis meses procurando pela primeira oportunidade (ou ainda estão procurando).

A maneira como conseguiram o primeiro emprego também é interessante, 28,2% dos engenheiros conquistaram esta etapa por indicação e 28,7% foram contratados do estágio ou já eram contratados na empresa durante a graduação. Nos demais casos há conquista da vaga por sites pagos, sites gratuitos, envio direto de currículo para empresa, entre outros, representando ainda assim uma minoria.

Muitos dos engenheiros ainda citaram em informações adicionais que devido à falta de oportunidades resolveram iniciar uma pós-graduação com o objetivo de se capacitar. No entanto, para a maioria deles, as barreiras continuam as mesmas pois o que o mercado exige é experiência.

PRECONCEITO

A pesquisa revela um grande preconceito com relação ás faculdades particulares. Para os graduados em instituições públicas 40,2% recebem 4 mil reais ou mais em seu primeiro emprego, contra apenas 22,4% para os formados em faculdade privada. Os perfis são parecidos, mas as oportunidades são diferentes: 46,5% dos engenheiros das faculdades particulares nunca realizaram nenhuma atividade extracurricular durante a graduação enquanto que apenas 24,5% dos engenheiros da faculdade pública estão neste perfil.

O mesmo vale para o nível de inglês, apenas 33,6% em faculdades privadas falam inglês avançado ou fluente, contra 61,5% nas faculdades públicas. Isto pode gerar resultados como os observados nos candidatos aprovados em programas de trainee: 61% são de faculdades públicas, concordando com o estudo divulgado pela Exame.com sobre “O que os finalistas de programas de trainee têm em comum”.

Outros estudos também apontam esta preferência para os formados em engenharia de uma maneira geral, como a notícia da UOL em Faculdade pública ou privada? Veja como é visto cada profissional: “… existe uma preferência por estudantes de universidades públicas, por conta da metodologia de ensino, que muitas empresas entendem ser mais exigente (…) as multinacionais, especialmente em áreas como engenharia, acabam absorvendo mais profissionais vindos de universidades mantidas pelo governo”.

Em contrapartida, ainda é valido o item citado na mesma matéria da UOL quanto a comparação entre um candidato graduado em faculdade privada com experiência e um estudante de faculdade pública sem experiência, o candidato da escola privada ainda pode levar vantagem. “A experiência é muito valorizada nas organizações”, isto é visível pela grande quantidade de vagas que exigem anos de experiência como pré-requisito, limitando a busca para aqueles que estudaram em públicas (em sua maioria em período integral).

Já com relação as mulheres recém-formadas, a pesquisa não revelou grandes dificuldadesEstudos sobre a desigualdades de gênero apontam que as mulheres estudam mais e mesmo assim recebem menores salários, no entanto a pesquisa não mostrou este problema para as recém-formadas em engenharia. De acordo com as respostas 39% das mulheres recebem salário igual ou superior a 4 mil reais, e para os homens esta porcentagem é bem menor: 27,8%.

Porém, ao comparar as capacitações, pode-se observar que as mulheres estão na frente, talvez justificando a diferença salarial. Elas fazem mais atividades extracurriculares (74,4% das mulheres e apenas 58,8% dos homens), têm mais vivência no exterior (29,5% no caso delas, e 24,2% para eles), melhor nível de inglês (49,2% falam fluentemente ou em nível avançado e para o mesmo caso 44% dos homens) e praticam mais atividades voluntárias (59,5% contra 45,6% dos homens). Apenas perdem para os homens na realização de cursos técnicos (somente 37,2% delas realizaram qualquer tipo de curso técnico, enquanto entre eles são 54,6%). Este fato confirma que as mulheres são mais ativas dentro da engenharia e ao menos em nível de recém-formadas não estão colocadas em vagas com salários mais baixos.

QUEM LEVA MAIS VANTAGEM

Inglês fluente, vivência no exterior, meses de estágio, curso técnico…. Este é um perfil que ajuda muito para quem não tem experiência, mas muitas vezes não é suficiente. A pesquisa aponta que 28,2% dos empregados conseguiram emprego por indicação, 19,1% foram contratados do estágio e 9,6% já eram contratados na empresa durante a graduação. Este perfil totaliza mais da metade dos casos de engenheiros recém-formados empregados. Para muitos esta realidade não é possível pela falta de contatos (mas nunca é tarde) e por não ter a oportunidade de contratação no estágio, portanto a luta é muito mais longa.

Uma conclusão para os estudantes: vale a pena se dedicar e conseguir um bom estágio, mesmo que isso leve tempo e atrase a graduação. É claro que a contratação do estagiário depende do momento que a empresa se apresenta, se existem vagas e se o estagiário se enquadra nas vagas existentes, mas algumas empresas tem maior histórico de efetivação do que outras, portanto focar na busca pode ajudar. E nunca deixar de lado o investimento em um grande e rico networking, dentro do estágio, da faculdade e até mesmo na vida pessoal. Cada contato pode fazer toda diferença.

Para conseguir um bom estágio o currículo acadêmico será válido, visto que na maioria das vezes o candidato ainda não possui experiência profissional (exceto o caso de vagas de estágio que já vêm exigindo experiência também). Portanto, investir em atividades extracurriculares pode ser crucial, além de um bom preparo para todas as exaustivas fases do processo seletivo.

Mas após este período, se o candidato já estagiou e não foi contratado, também não possui contatos para uma indicação, então pode ser o momento de ampliar sua busca. Candidatos que conseguiram emprego com os métodos “tradicionais” (entrevistas sem indicação), enviaram currículo para mais de 50 empresas. Mas vale lembrar que o salário alcançado ainda assim está bem abaixo do piso de engenharia. Isto revela o porquê de 22,6%dos candidatos já recusaram propostas de emprego devido ao baixo salário.

Considerando todos os perfis que responderam a pesquisa, 30% recebem ou receberam em seu emprego salário superior ou igual a 4 mil reais, apenas 3,5% mais que 6 mil. Estes números revelam bem a realidade do mercado brasileiro: ter um piso salarial definido pelo CREA não significa que o engenheiro vai se formar e receber este valor.

CURSOS COM MELHORES SALÁRIOS

100 dos engenheiros desta pesquisa são formados ou estão cursando engenharia química. As respostas revelaram que é um dos cursos com as melhores condições de salário: 48,3% recebem mais de 4 mil reais em seu primeiro emprego, contra 35,6% no curso de engenharia mecânica, 24,1% para elétrica e 21,4% em engenharia de produção. No entanto, são poucos resultados por curso para se atingir uma conclusão consistente. Mas a dificuldade é clara: para todos os cursos citados cerca de 60% dos candidatos procuraram pelo primeiro emprego por mais de três meses.

Nos próximos dias os gráficos de cada perfil analisado serão postados na aba “Estatísticas” para melhor visualização.

CONCLUSÃO

Com tantas exigências do mercado de trabalho e pré-requisitos, ainda permanece algumas perguntas clássicas: Se as empresas não derem oportunidades aos jovens recém-formados, como eles irão adquirir experiências profissionais esperadas? O que pode ser feito para contornar esta situação?

Estes tópicos podemos e devemos continuar em discussão. Agora é possível ter certeza das dificuldades e observar os fatores que ajudam a elevar as chances do candidato, mas sabe-se que ainda assim um bom emprego não é garantido. A solução encontrada pela maioria dos candidatos é iniciar a carreira com salários e cargos inferiores ao de engenheiros, com a esperança de conseguir um nova e melhor posição no futuro.

Geração do diploma' lota faculdades, mas decepciona empresários

Nunca tantos brasileiros chegaram às salas de aula das universidades, fizeram pós-graduação ou MBAs. Mas, ao mesmo tempo, não só as empresas reclamam da oferta e qualidade da mão-de-obra no país como os índices de produtividade do trabalhador custam a aumentar.

Na última década, o número de matrículas no ensino superior no Brasil dobrou, embora ainda fique bem aquém dos níveis dos países desenvolvidos e alguns emergentes. Só entre 2011 e 2012, por exemplo, 867 mil brasileiros receberam um diploma, segundo a mais recente Pesquisa Nacional de Domicílio (Pnad) do IBGE.

“Mas mesmo com essa expansão, na indústria de transformação, por exemplo, tivemos um aumento de produtividade de apenas 1,1% entre 2001 e 2012, enquanto o salário médio dos trabalhadores subiu 169% (em dólares)", diz Rafael Lucchesi, diretor de educação e tecnologia na Confederação Nacional da Indústria (CNI).

A decepção do mercado com o que já está sendo chamado de "geração do diploma" é confirmada por especialistas, organizações empresariais e consultores de recursos humanos.

"Os empresários não querem canudo. Querem capacidade de dar respostas e de apreender coisas novas. E quando testam isso nos candidatos, rejeitam a maioria", diz o sociólogo e especialista em relações do trabalho da Faculdade de Economia e Administração da USP, José Pastore.

Entre empresários, já são lugar-comum relatos de administradores recém-formados que não sabem escrever um relatório ou fazer um orçamento, arquitetos que não conseguem resolver equações simples ou estagiários que ignoram as regras básicas da linguagem ou têm dificuldades de se adaptar às regras de ambientes corporativos.

"Cadastramos e avaliamos cerca de 770 mil jovens e ainda assim não conseguimos encontrar candidatos suficientes com perfis adequados para preencher todas as nossas 5 mil vagas", diz Maíra Habimorad, vice-presidente do DMRH, grupo do qual faz parte a Companhia de Talentos, uma empresa de recrutamento. "Surpreendentemente, terminanos com vagas em aberto."

Outro exemplo de descompasso entre as necessidades do mercado e os predicados de quem consegue um diploma no Brasil é um estudo feito pelo grupo de Recursos Humanos Manpower. De 38 países pesquisados, o Brasil é o segundo mercado em que as empresas têm mais dificuldade para encontrar talentos, atrás apenas do Japão.

É claro que, em parte, isso se deve ao aquecimento do mercado de trabalho brasileiro. Apesar da desaceleração da economia, os níveis de desemprego já caíram para baixo dos 6% e têm quebrado sucessivos recordes de baixa.

Mas segundo um estudo divulgado pelo Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) divulgado nesta semana, os brasileiros com mais de 11 anos de estudo formariam 50% desse contingente de desempregados.

"Mesmo com essa expansão do ensino e maior acesso ao curso superior, os trabalhadores brasileiros não estão conseguindo oferecer o conhecimento específico que as boas posições requerem", explica Márcia Almstrom, do grupo Manpower.
Causas

Especialistas consultados pela BBC Brasil apontam três causas principais para a decepção com a "geração do diploma".

A principal delas estaria relacionada a qualidade do ensino e habilidades dos alunos que se formam em algumas faculdades e universidades do país.

Os números de novos estabelecimentos do tipo criadas nos últimos anos mostra como os empresários consideram esse setor promissor. Em 2000, o Brasil tinha pouco mais de mil instituições de ensino superior. Hoje são 2.416, sendo 2.112 particulares.

"Ocorre que a explosão de escolas superiores não foi acompanhada pela melhoria da qualidade. A grande maioria das novas faculdades é ruim", diz Pastore.

Tristan McCowan, professor de educação e desenvolvimento da Universidade de Londres, concorda. Há mais de uma década, McCowan estuda o sistema educacional brasileiro e, para ele, alguns desses cursos universitários talvez nem pudessem ser classificados como tal.

“São mais uma extensão do ensino fundamental", diz McCowan. "E o problema é que trazem muito pouco para a sociedade: não aumentam a capacidade de inovação da economia, não impulsionam sua produtividade e acabam ajudando a perpetuar uma situação de desigualdade, já que continua a ser vedado à população de baixa renda o acesso a cursos de maior prestígio e qualidade."

Para se ter a medida do desafio que o Brasil têm pela frente para expandir a qualidade de seu ensino superior, basta lembrar que o índice de anafalbetismo funcional entre universitários brasileiros chega a 38%, segundo o Instituto Paulo Montenegro (IPM), vinculado ao Ibope.

Na prática, isso significa que quatro em cada dez universitários no país até sabem ler textos simples, mas são incapazes de interpretar e associar informações. Também não conseguem analisar tabelas, mapas e gráficos ou mesmo fazer contas um pouco mais complexas.

De 2001 a 2011, a porcentagem de universitários plenamente alfabetizados caiu 14 pontos - de 76%, em 2001, para 62%, em 2011. "E os resultados das próximas pesquisas devem confirmar essa tendência de queda", prevê Ana Lúcia Lima, diretora-executiva do IPM.

Segundo Lima, tal fenômeno em parte reflete o fato da expansão do ensino superior no Brasil ser um processo relativamente recente e estar levando para bancos universitários jovens que não só tiveram um ensino básico de má qualidade como também viveram em um ambiente familiar que contribuiu pouco para sua aprendizagem.

"Além disso, muitas instituições de ensino superior privadas acabaram adotando exigências mais baixas para o ingresso e a aprovação em seus cursos", diz ela. "E como consequência, acabamos criando uma escolaridade no papel que não corresponde ao nível real de escolaridade dos brasileiros."
Postura e experiência

A segunda razão apontada para a decepção com a geração de diplomados estaria ligada a “problemas de postura” e falta de experiência de parte dos profissionais no mercado.

“Muitos jovens têm vivência acadêmica, mas não conseguem se posicionar em uma empresa, respeitar diferenças, lidar com hierarquia ou com uma figura de autoridade”, diz Marcus Soares, professor do Insper especialista em gestão de pessoas.

“Entre os que se formam em universidades mais renomadas também há certa ansiedade para conseguir um posto que faça jus a seu diploma. Às vezes o estagiário entra na empresa já querendo ser diretor.”

As empresas, assim, estão tendo de se adaptar ao desafio de lidar com as expectativas e o perfil dos novos profissionais do mercado – e em um contexto de baixo desemprego, reter bons quadros pode ser complicado.

Para Marcelo Cuellar, da consultoria de recursos humanos Michael Page, a falta de experiência é, de certa forma natural, em função do recente ciclo de expansão econômica brasileira.

"Tivemos um boom econômico após um período de relativa estagnação, em que não havia tanta demanda por certos tipos de trabalhos. Nesse contexto, a escassez de profissionais experientes de determinadas áreas é um problema que não pode ser resolvido de uma hora para outra", diz Cuellar.

Nos últimos anos, muitos engenheiros acabaram trabalhando no setor financeiro, por exemplo.

"Não dá para esperar que, agora, seja fácil encontrar engenheiros com dez ou quinze anos de experiência em sua área – e é em parte dessa escassez que vem a percepção dos empresários de que ‘não tem ninguém bom’ no mercado", acredita o consultor.
'Tradição baicharelesca'

Por fim, a terceira razão apresentada por especialistas para explicar a decepção com a “geração do diploma” estaria ligada a um desalinhamento entre o foco dos cursos mais procurados e as necessidades do mercado.

"É bastante disseminada no Brasil a ideia de que cargos de gestão pagam bem e cargos técnicos pagam mal. Mas isso está mudando – até porque a demanda por profissionais da área técnica tem impulsionado os seus salários."
Gabriel Rico

De um lado, há quem critique o fato de que a maioria dos estudantes brasileiros tende a seguir carreiras das ciências humanas ou ciências sociais - como administração, direito ou pedagogia - enquanto a proporção dos que estudam ciências exatas é pequena se comparada a países asiáticos ou alguns europeus.

“O Brasil precisa de mais engenheiros, matemáticos, químicos ou especialistas em bioquímica, por exemplo, e os esforços para ampliar o número de especialistas nessas áreas ainda são insuficientes”, diz o diretor-executivo da Câmara Americana de Comércio (Amcham), Gabriel Rico.

Segundo Rico, as consequências dessas deficiências são claras: “Em 2011 o país conseguiu atrair importantes centros de desenvolvimento e pesquisas de empresas como a GE a IBM e a Boeing”, ele exemplifica. “Mas se não há profissionais para impulsionar esses projetos a tendência é que eles percam relevância dentro das empresas.”

Do outro lado, também há críticas ao que alguns vêem como um excesso de valorização do ensino superior em detrimento das carreiras de nível técnico.

“É bastante disseminada no Brasil a ideia de que cargos de gestão pagam bem e cargos técnicos pagam mal. Mas isso está mudando – até porque a demanda por profissionais da área técnica tem impulsionado os seus salários”, diz o consultor.

Rafael Lucchesi concorda. "Temos uma tradição cultural baicharelesca, que está sendo vencida aos poucos”, diz o diretor da CNI – que também é o diretor-geral do Senai (Serviço Nacional da Indústria, que oferece cursos técnicos).

Segundo Lucchesi, hoje um operador de instalação elétrica e um técnico petroquímico chegam a ganhar R$ 8,3 mil por mês. Da mesma forma, um técnico de mineração com dez anos de carreira poderia ter um salário de R$ 9,6 mil - mais do que ganham muitos profissionais com ensino superior.

“Por isso, já há uma procura maior por essas formações, principalmente por parte de jovens da classe C, mas é preciso mais investimentos para suprir as necessidades do país nessa área”, acredita.

Fonte: BBC