segunda-feira, 25 de novembro de 2013

Sociólogo analisa embates entre países e empresas por energia

Uma estatal chinesa (Cnooc) quis comprar uma petroleira californiana (Unocal), que possuía reservas no Sudeste Asiático, no golfo do México e no mar Cáspio. O negócio, de US$ 18,5 bilhões, era objetivo também da norte-americana Chevron, que buscava compensar a exaustão gradativa de suas reservas.

A disputa foi parar no Congresso norte-americano. Parlamentares afirmaram que o controle da China sobre uma parcela (relativamente pequena) dos suprimentos norte-americanos ameaçava a segurança nacional dos EUA.

Embargos articulados pela Chevron foram providenciados no Congresso, e a pressão política surtiu efeito. A China (com a melhor oferta) saiu da disputa. A Chevron ficou com a Unocal em 2005.

O episódio, que mostra a realidade do chamado "livre mercado", é lembrado por Igor Fuser em "Energia e Relações Internacionais".

Doutor pela USP, sociólogo e jornalista, o autor é professor de relações internacionais da Universidade Federal do ABC. Didático, seu livro percorre as disputas geopolíticas e econômicas em torno de fontes de energia a partir do final do século 19.

Seu estudo passa por guerras, choques de preço e de produção de petróleo e investimentos em alternativas. Fuser foca a política e descreve os embates entre países produtores e consumidores e empresas transnacionais.

Ele afirma que o petróleo e o gás natural são recursos estratégicos que "não podem ser encarados como simples mercadorias, regidas apenas pelas forças de mercado". Relata a ascensão de John Rockefeller, a hegemonia das "sete irmãs" petroleiras e o papel vital do petróleo a partir da Primeira Guerra Mundial.

NACIONALISMOS

Essencial na reconstrução europeia após a Segunda Guerra Mundial, o petróleo tinha um custo de produção de US$ 0,10 na Arábia Saudita em 1945. A Casa Real recebia de royalties US$ 0,16. E o preço de venda oscilava entre US$ 1,05 e US$ 1,13.

Os estratosféricos ganhos das petroleiras foram abalados pela primeira vez em 1948, quando a Venezuela adotou uma regra que dividia os lucros igualmente entre empresas e Estados.

No Irã, a estatal britânica se recusou a compartilhar os ganhos em 50%, e, em 1951, o primeiro-ministro Mohammed Mossadegh nacionalizou o petróleo.

A seguir, foi derrubado por um golpe promovido pela CIA e pelo Reino Unido. Mas a onda nacionalista continuou. A Opep foi criada em 1960 e mudou a correlação de forças. Em 1973, ocorreu a guerra entre Israel e países árabes. Houve embargo de fornecimento aos EUA e o primeiro choque do petróleo --800% de aumento de preço do combustível.

Hoje, 77% das reservas mundiais de petróleo se encontram sob o controle de estatais ou semiestatais.

CONFLITOS

Os EUA, com apenas 5% da população mundial, consomem 21% de todo o petróleo produzido no mundo. Importando praticamente a metade do que usa, o país adotou a "estratégia da máxima extração", com foco no golfo Pérsico e no norte da África.

Assim, enquadra-se a guerra que derrubou Saddam Hussein, um inimigo dos EUA no Iraque, que detém a quarta maior reserva do planeta (atrás da Arábia Saudita, da Venezuela e do Irã).

Após a invasão norte-americana, ExxonMobil, Shell e BP voltaram ao país --de onde estavam afastadas desde 1973-- e levaram os mais vantajosos contratos, conta Fuser. A mesma lógica explica o apoio aos sauditas e a constante pressão sobre o Irã.

Fuser lembra o caso do golpe contra Hugo Chávez e a "guerra do gás" que marcou a ascensão de Evo Morales na Bolívia. Para ele, "a mudança do modelo neoliberal dos hidrocarbonetos do país por uma política de soberania energética trouxe benefícios": a renda do setor passou de 5,5% do PIB, em 2004, para 21,9%, em 2009.

Preocupado em expressar diferentes lados do problema energético, Fuser tenta resumir para leigos um tema complexo. Seria necessário mais espaço para aprofundar alguns pontos. Mas a leitura é útil para quem quer entender a história e a política por trás de eventos cruciais de hoje. Olhando bem, petróleo e energia vão aparecer.

ENERGIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS
AUTOR Igor Fuser
EDITORA Saraiva
QUANTO R$ 54 (224 págs.)
AVALIAÇÃO Bom

Texto extraído de ;

sábado, 2 de novembro de 2013

Pré-sal, o maior desafio do Brasil

O petróleo do pré-sal guarda uma oportunidade de ouro para o avanço da economia brasileira — desde que o país não se perca em meio à sua grandeza

Rio de Janeiro - Todos os dias, mais de 180 000 barris de petróleo são extraídos de poços do pré-sal. O combustível produzido na nova fronteira, descoberta em 2007, já abastece veículos no Brasil e no exterior — a primeira carga exportada foi para o Chile em maio do ano passado.
Aos poucos, o pré-sal vai deixando de ser um projeto distante, localizado em algum lugar do futuro no imaginário dos brasileiros. Também vão se afastando as dúvidas sobre a viabilidade tecnológica e econômica de tirar petróleo debaixo de 3 000 metros de água e 4 000 metros de rochas.
O melhor, no entanto, é saber que a produção atual do pré-sal ainda é uma gota diante do potencial brasileiro. Os campos gigantes que se espalham do litoral do Espírito Santo ao de Santa Catarina são a principal novidade do setor em décadas. Um de cada três barris de petróleo descobertos no mundo nos últimos cinco anos está no Brasil.
Partindo de estimativas conservadoras, o pré-sal deve dobrar as reservas de petróleo do país para 31 bilhões de barris — o número só considera a parte já descoberta. Acredita-se que haja outros 87 bilhões de barris não descobertos.
A descoberta do pré-sal abre um novo horizonte para o Brasil. Leva o país mais perto do primeiro time como potência energética”, diz Daniel Yergin, economista americano considerado uma das maiores autoridades mundiais em energia. Por tudo isso, o Brasil encontra-se diante de uma oportunidade rara. A saga em torno do pré-sal é, hoje, um dos mais impressionantes empreendimentos em curso no mundo. No ranking dos maiores projetos em operação, só a construção de uma rede de 25 000 quilômetros de trem-bala na China rivaliza com o pré-sal.

No caso chinês, os 300 bilhões de dólares previstos em investimentos nas ferrovias até 2020 são a maior aposta do governo de Pequim para manter a economia aquecida ao longo da década. Já no Brasil, o petróleo pode ser o passaporte para o Primeiro Mundo — se soubermos lidar com sua grandeza.


Fonte: http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1019/noticias/pre-sal-o-maior-desafio-do-brasil









Huet, CBSP e a “falta” de mão-de-obra no mar

O discurso da mídia a respeito das profissões marítimas relacionadas diretamente com o petróleo é o mais animador possível. Imagens e mais imagens tentando nos convencer de que estão chovendo empregos no offshore. Podando este discurso dos eufemismos, realmente não é difícil acreditar que o setor carece de mão-de-obra qualificada. No entanto, não acredito que esta necessidade tenha simplesmente surgido diante de nós, já adulta e cheia de vontades. Para tudo, existe um motivo.

O ensino técnico existe no Brasil antes mesmo do petróleo ser descoberto. Não houve, ao longo da história, incentivos palpáveis no tocante à inserção de técnicos no mercado petrolífero e/ou posteriormente, no mercado petrolífero offshore

.Todos os dias, recebo e-mails de profissionais qualificados, poliglotas, bacharéis, e tudo o mais, desesperados porque deram seus currículos até para o Papa e nada conseguiram.

- Que p#@* de falta de mão-de-obra é essa??!!

Aí, partimos para o campo, procurando empregos e encontramos dificuldades, mas não as habituais quando se luta por um lugar ao Sol, mas dificuldades que vão, digamos, sobre as cabeças dos desempregados.

O que se diz por aí é que, sem os cursos Huet (escape de aeronaves submersas) e Salvatagem (CBSP) , você nem toma café na copa do mercado offshore. Os dois juntos têm um prazo de validade de dois a cinco anos, dependendo da empresa e do curso, e custam uma média de R$ 3 mil. Como, meu Deus, um sujeito desempregado, que almeja ser plataformista ou homem de área, emprego que paga um salário médio de R$ 2.500, conseguirá fazer um curso que custa R$ 500 reais a mais do que o salário que ele pretende ganhar?

Eu deposito todas as minhas fichas neste mercado, exatamente porque quero muito também entrar nele. Sou bacharel, falo inglês melhor do que muito oficial, pós-graduando em QSMS e estou pleiteando um emprego como técnico de segurança offshore. E estou com bastante medo deste mercado que, ao que está me parecendo, te chama, te seduz, mas bate a porta na sua cara.

O conselho que posso dar é: qualifique-se cada vez mais. Nunca pare de estudar, fazer cursos, aprender línguas que tenham a ver com o ambiente offshore (está cheio de noruegueses, holandeses…só escolher). No ruim de tudo, os mais fortes sobrevivem, como sempre foi, independente de qualquer boom, ou falso boom de empregos. 

Por Marcus Lotfi


O Pré-sal deve dobrar as reservas de petróleo do país para 31 bilhões de barris, acredita-se que haja outros 87 bilhões de barris não descobertos.

Aos poucos, o pré-sal vai deixando de ser um projeto distante, localizado em algum lugar do futuro no imaginário dos brasileiros. Também vão se afastando as dúvidas sobre a viabilidade tecnológica e econômica de tirar petróleo debaixo de 3 000 metros de água e 4 000 metros de rochas.

Partindo de estimativas conservadoras, o pré-sal deve dobrar as reservas de petróleo do país para 31 bilhões de barris — o número só considera a parte já descoberta. Acredita-se que haja outros 87 bilhões de barris não descobertos.

O petróleo do pré-sal guarda uma oportunidade de ouro para o avanço da economia brasileira. Veja mais na reportagem de Roberta Paduan na Exame: http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1019/noticias/pre-sal-o-maior-desafio-do-brasil .